sexta-feira, 28 de maio de 2010

Alegria Alegria... Caetano Veloso

caminhando contra o vendo
sem lenço... sem documento...
no sol quase dezembro
eu vou...

o sol reparte em crimes...
espaçonaves guerrilhas...
em cardinalles bonitas...
eu vou...

em caras de presidentes...
em grandes beijos de amor...
em dentes pernas bandeiras...
bomba e brigitte bardot...

o sol nas bancas de revista...
me enche de alegria e preguiça...
quem lê tanta notícia...
eu vou...

ela pensa em casamento...
e eu nunca mais fui à escola...
sem lenço sem documento...
eu vou...

eu tomo uma coca-cola
ela pensa em casamento...
uma canção me consola...
eu vou...

por entre fotos e nomes...
sem livros e sem fuzil...
sem fome sem telefone..
no coração do brasil...

ela nem sabe até pensei
em cantar na televisão...
o sol é tão bonito...
eu vou...

por entre fotos e nomes...
os olhos cheios de cores...
o peito cheio de amores...
vãos...

eu vou...

por que não?? por que não??

sem lenço sem documento...
nada no bolso ou nas mãos...
eu quero seguir vivendo...
amor...

eu vou...

por que não?? por que não??

"Na canção de Caetano, a novidade de uma letra contruída a partir de referências ao cotidiano da cultura urbana, montando uma espécie de painel do gragmentário mundo das bancas de revista, das fotos e nomes, das espaçonaves e guerrilhas, iluminado pelo brasileirissimo sol de quase dezembro..."

"Notem-se, além da referência às mitologias da comunicação de massa, a crítica musical, explicita na bem-humorada alusão à "cansão que consola" - quando a MPB procurava desenvolver uma retórica de revolta - e a crítica comportamental, influenciada pela atitude hippie de quem vai pelas ruas sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos".

Fonte:Cultura e paricipação nos anos 60 - Heloísa Buarque de Hollanda e Marcos Augusto Gonçalves

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